quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Planeta Sustentável - 4° Reportagem - AMBIENTE


CHINA

A vida sexual dos pandas

A China anuncia a existência de 300 pandas nascidos em cativeiro, resultado de décadas de esforços para vencer a falta de apetite amoroso entre os ursos.


Carolina Romanini
Revista Veja – 15/12/2010


A China divulgou uma boa notícia na semana passada: a formação de um estoque de 300 ursos pandas nascidos em cativeiro. Essa quantidade era a meta estabelecida para a fase 1 do programa de preservação desses animais. O trabalho começou em 1963, quando nasceu o primeiro filhote. Agora já é possível dar início à fase 2 - a reinserção dos pandas na natureza. Acredita-se que o primeiro deles será posto em liberdade dentro de quinze anos. Quem estiver estranhando a lentidão do projeto não tem conhecimento das dificuldades de reprodução desse urso simpático, que parece preparado pela evolução exatamente para encantar o coração humano e servir de modelo para ursinhos de pelúcia. O problema que mais ameaça a sobrevivência da espécie é o sexo. Ou, mais claramente, a falta dele entre os pandas.

Muita coisa na fisiologia e no comportamento desses animais conspira para um ciclo reprodutivo pouco eficiente. O cio das fêmeas dura apenas 72 horas por ano. Nesse intervalo de tempo, elas só estão realmente férteis por um período entre 12 e 24 horas. O encontro entre um macho e uma fêmea nesse curto espaço de oportunidade para reprodução é dificultado pelo fato de os grupos familiares viverem isolados em bolsões de floresta nas montanhas do sudoeste da China, distantes uns dos outros. Nos encontros ocasionais, os pandas parecem muitas vezes mais dispostos à guerra dos sexos do que ao amor. O desencontro era um problema que se poderia supor fosse resolvido facilmente nos centros de reprodução, onde os pesquisadores fariam o papel de casamenteiros. Não foi assim. No cativeiro, os pandas também se revelaram bastante desmotivados para copular.

O mais bem-sucedido local de reprodução é o Centro Chengdu de Pesquisas de Criação de Pandas, na província de Sichuan, no sudoeste da China. Seus pesquisadores testaram vários métodos para aumentar o apetite sexual dos ursos. Espalhar o odor de uma fêmea no cio, artifício que funciona com a maioria dos animais, teve entre os pandas, entretanto, efeito discreto. Foi usada ainda uma combinação de doses de Viagra com a exibição de vídeos de sexo explícito (entre pandas, evidentemente). Devido ao tamanho diminuto do pênis, o macho não encontra facilmente uma posição para cruzar com a fêmea. Os vídeos de educação sexual foram uma tentativa de ensiná-los a encontrar a posição certa para a fecundação. O resultado da aula de educação sexual também não foi nada espetacular. Na realidade, a maioria das técnicas de estímulo à reprodução falhou totalmente. Algumas resultaram em reações violentas dos animais, que brigavam entre si.

Só dez anos atrás os pesquisadores entenderam o sistema reprodutor das fêmeas o bastante para iniciar a inseminação artificial, uma técnica que resulta mais facilmente em gravidez. Entre as peculiaridades da fêmea do panda está uma gestação que pode durar de onze semanas a quase um ano e permanecer indetectável até o nascimento do filhote. Os bebês nascem em dupla e muito frágeis, com 90 a 130 gramas cada um. Um adulto pesa entre 100 e 150 quilos. A mãe carece de leite e energia para cuidar de dois filhotes ao mesmo tempo e tende a dar atenção a apenas um deles. O centro de pesquisa cuida de incubar o bebê rejeitado e de trocá-lo, de tempos em tempos, com o irmão adotado pela mãe. Dessa forma, ambos são criados da mesma maneira. Para fazer a troca, os pesquisadores se vestem com fantasias de pelúcia que simulam um urso panda. O índice de sobrevivência das ninhadas aumentou para 98% com o emprego dessa tática. O centro Chengdu garantiu a sobrevivência de 168 filhotes entre 1987 e dezembro de 2009.
Atingida a meta de filhotes nascidos em cativeiros, os chineses se dedicam agora à construção do primeiro centro de reintrodução dos pandas na natureza. Não há, por enquanto, nenhuma experiência desse tipo. Os pesquisadores preveem vários tipos de dificuldade. Os animais precisarão ser ensinados a viver e se alimentar sozinhos. Também será necessário plantar matas de bambu, a alimentação favorita dos pandas. O governo chinês já converteu 1 milhão de hectares de florestas habitadas por pandas em reservas de preservação animal. Esse território representa 45% do habitat do panda e dá proteção direta a 60% do total da população. Nos anos 80 restavam apenas 1 000 exemplares de panda na natureza. Hoje, estima-se que sejam mais de 2 500. A maior ameaça é a redução de seu habitat nas montanhas do sudoeste da China. Devido ao avanço da agricultura e à construção de estradas, a população de pandas está dividida e isolada em vinte áreas nas províncias de Shaanxi, Gansu e Sichuan. Como não conseguem migrar de uma área para outra, os animais têm dificuldade em encontrar alimento nos períodos de escassez de bambu, sua principal fonte de nutrientes. Os bambuzais morrem periodicamente e demoram entre 15 e 120 anos para se reerguer. Cada panda consome de 12 a 38 quilos de bambu por dia, para compensar a deficiência de seu sistema digestivo. Sua digestão é basicamente a de um carnívoro, embora o urso tenha se adaptado a uma dieta vegetariana.

O urso panda-gigante é o símbolo dos animais em risco de extinção. Sua popularidade se deve, em parte, ao fato de ter sido escolhido como logotipo pela World Wildlife Fund (WWF), quando a organização de proteção da vida selvagem foi criada, em 1961. Também é um negócio lucrativo para a China. O país é o único habitat do animal e todos os zoológicos do mundo sonham ter um deles. Os pandas são emprestados em duplas num sistema de leasing. Os próprios centros de pesquisa e criação chineses estão abertos ao turismo. Um deles, o Wolong Giant Panda Breeding Centre, oferece até acomodação aos visitantes. Em agências especializadas, é possível comprar pacotes que incluem o direito de ser fotografado com filhotes. Uma visita de um dia custa o equivalente a 750 reais. São otimistas os prognósticos de que não voltarão a faltar filhotes para ser fotografados com os turistas.


ANTES DE IMPRIMIR, PENSE NO PLANETA!


Amanhã  teremos a 5° reportagem que também será do tópico AMBIENTE, e seu tema será:

SNUC: Dez anos protegendo a biodiversidade. 


Não perca esta 5° reportagem, ela vai estar no blog amanhã dia 04/02/2011. Até mais.

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